domingo, 14 de julho de 2013

A Dor de Cabeça Sob a Ótica Psicanalítica

por Wally W. Martins

Do ponto de vista da psicanálise, dor de cabeça é ódio reprimido. A dor de cabeça, no sentido próprio é uma forma de tirar o foco mental

No ódio, a parte mental e racional, ficam como que procurando uma vingança. Esta forma de pensar é muito destrutiva. E sobrecarrega o sistema psíquico porque uma destrutividade tão forte, só pode ser efetuada por um ser muito forte também. Isto provoca uma inflação do Ego. 

É muita energia concentrada no próprio sujeito. E nisso surge um aspecto sádico-narcisista que tende a um surto psicótico. E o corpo de um Ego, que seja parcialmente saudável não quer isso.
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Como que sendo uma punição, surgem sensações de mal estar, que o aparelho psíquico provoca, disparando a pituitária, que dispara as glândulas supra renais e liberam na corrente sanguínea, adrenalina e cortisol. Isso acelera o coração e contrai os vasos sanguíneos, o que pode causar um pequeno ferimento em algum capilar, pelo aumento de pressão sanguínea, nas meninges ou próximo do nervo ótico, o que resulta na dor de cabeça, ou enxaqueca. 

Isso explica bem a lateralidade da enxaqueca, ou porque pode durar dias, ou porque é recorrente, quando sua origem pode estar em um conteúdo reprimido no inconsciente desde a infância, ou gestação. 

Claro que fora isso, existem fatores orgânicos que podem ser detectados em exames de imagem. 

Para o psicanalista Groddeck a doença sempre tem um objetivo. 

Assim como Freud colocou que o sintoma é o deslocamento do reprimido, durante a vigília. 

Então, em Groddeck há a afirmação de que se um paciente sofria de dores de cabeça, estas o impediam de refletir e de pensar. 

O objetivo da doença, portanto, deveria ser justamente esse. Entendem? A dor aparece para mascarar o pensamento!!! 

Em Freud, há um aprofundamento colocando a dor de cabeça como um desejo reprimido deslocado. Há um entendimento que o inconsciente é simultaneamente psíquico e somático. 

Goleman nos diz que o estudo confirma que as emoções perturbadoras fazem mal à saúde em certa medida. Descobriu-se que pessoas que sofriam de ansiedade crônica, longos períodos de tristeza e pessimismo, apresentavam doenças como asma, artrite, dores de cabeça, úlceras pépticas e males cardíacos. 

Em um artigo sobre a co-relação da enxaqueca e a psicossomática, li que Johnson e muitos outros psicanalistas deram especial atenção às enxaquecas. Nelas o pano de fundo emocional caracteriza-se por raiva e hostilidade intensas, crônicas e reprimidas, e sua função é proporcionar alguma expressão ao que não pode ser expresso ou mesmo admitido diretamente

As enxaquecas são investidas agressivas ou ataques vingativos e tendem a ocorrer em situações de intensa ambivalência emocional, ou seja, em relação a indivíduos que são ao mesmo tempo amados e odiados. 

Como cita Sacks, as enxaquecas surgem não como expressões de um distúrbio emocional agudo, mas como expressões de necessidades emocionais crônicas e, em geral, reprimidas

Então fica a dica: se você tem dores de cabeça que não sejam de origem orgânica, e quer se livrar delas, não reprima emoções assim, e de preferência, faça análise ;)

sábado, 13 de julho de 2013

Um Divã Para Dois - Filme

O Dr. Feld (Steve Carell) é um famoso terapeuta de casais que já resolveu muitos casos bem complicados. 

Quando Kay (Meryl Streep) finalmente consegue arrastar seu teimoso marido Arnold (Tommy Lee Jones) para o divã do Dr. Feld, nunca mais nada será como antes, pois dividir o mesmo divã com o marido será muito mais complicado do que dividir a mesma cama.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Um Método Perigoso

A história baseia-se na peça The Talking Cure, de Christopher Hampton, que romanceia fatos e acompanha a relação dos pais da psicanálise, Jung e Freud, com a russa Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma das primeiras mulheres psicanalistas da história, que foi paciente no hospital onde Jung trabalhava, em Zurique.

A Culpa Inconsciente gerada pelo Superego


A função exercida pelo Superego foi outrora desempenhada pelos pais. A criança enxerga os pais como cuidadores e compreende esse cuidado como amor, então quando é castigada ou repreendida, a criança sente medo e ansiedade porque acredita que pode perder esse amor. Assim o ego frágil da criança reconhece nos pais uma autoridade moral que deve ser admirada e obedecida. Com isso há um processo de identificação entre os dois egos e a criança começa a se comportar como os pais. A partir daí dá-se a criação de uma instância (superior) dentro do ego - a qual chamamos de Superego. (Wally Martins)


domingo, 7 de julho de 2013

Paradigmas Mudam!

Paradigmas mudam!
Devem mudar.
Evoluem!

Voltando...
Em Aristóteles (lá por 300 aC: Atenas, Grécia), líamos:
“...a paixão (phatos) e o desejo significam o fato de sofrer a ação de um agente externo, conduzindo, assim, à ideia de passividade”.
Em Descartes (lá por 1600: Paris, França), líamos:
“...penso, logo existo” (“Cogito, ergo sum”).
Ceticismo científico. Consciente comanda!

Indo...
Em Freud (lá por 1900: Paris/Viena, França/Áustria) líamos:
“...o inconsciente é a força (bela) intrínseca que faz com que o homem não coincida consigo mesmo”.
O Discurso do DESEJO e da PULSÃO. Inconsciente comanda forte!

Vindo...
Em Lacan (lá por 1973: Paris, França) lemos:
“Penso onde não sou, portanto sou onde não penso”.
Brinca com Descartes.
Impõe a clivagem do sujeito.

Venha...
Paradigmas? Mudemos!
Devem mudar.
Evoluamos!
“Derrame o Id no Ego e afogue o superego com bolhas de vida”
Sinta! Voe!
(Marcos Castro)


Provocar Amor

"Provocar amor não é igual a cobrar e esperar que o outro me ame. Depende de nós e não do outro. Um encontro entre duas pessoas, uma relação amorosa, pode ocorrer quando cada uma consegue provocar amor na outra. Para isto é necessário abandonar a expectativa de ser amado. Trata-se de um paradoxo interessante: Para encontrar o amor de outra pessoa é preciso se convencer da solidão." (Márlio V. Nunes)




sábado, 6 de julho de 2013

Derrame!


Alguém toma um saboroso Porto!
Seria o Vinho (Ahh... a Metonímia...da linguística)?
Arde...! Derrama ...!
Seria o cálice (Ahh... a Metáfora...da linguística)?
Isso.
O Inconsciente lacaniano.
Proveniente de noções de Ferdinand de Saussure de significante e significado.
O nosso. O de cada um.
Lindo o inconsciente na análise do discurso de Lacan.
Uma das marcas de Lacan em seu retorno a Freud é o estabelecimento de uma estrutura para o inconsciente e os desdobramentos que a nova abordagem permitiu.
Lacan formalizou os mecanismos de condensação e deslocamento, visando estabelecer um diálogo com a Linguística, obtendo assim uma ideia mais ampla sobre o funcionamento do inconsciente.
Tome!
Derrame!
Sinta!
Viva!
(Marcos Castro)


Condensação & Deslocamento

Os dois processos básicos que ocorrem na formação dos sonhos e nos sintomas são a condensação e o deslocamento. A condensação é a fusão da vivência diária com elementos censurados. Esconde alguns elementos do pensamento inconsciente, permitindo que apenas uma pequena parte deste conteúdo se manifeste no sonho e misturando diversos elementos do conteúdo oculto em apenas um elemento do conteúdo manifesto. Enquanto o deslocamento, 'regido' pela censura, modifica o foco de um elemento relacionado ao desejo inconsciente para um outro elemento aparentemente sem importância. Tanto a condensação quanto o deslocamento assim operam a fim de mascarar o sonho. (Wally Martins)



sexta-feira, 5 de julho de 2013

Persona (Quando Duas Mulheres Pecam)

Antes do início da história, equipamentos de cinema projetam várias imagens rápidas que mostram crucificação, um pênis ereto, uma aranha, trechos de uma comédia de cinema mudo (visto pela primeira vez em Prison (1949), um homem prisioneiro em um quarto, entre personificações da Morte e do Diabo), e o abate de uma ovelha. Por último, uma cena mais longa com um menino que acorda num hospital próximo de cadáveres, lendo o livro de Michail Lermontov chamado Um herói de nosso tempo ("Vår Tids Hjälte" no filme), e depois acaricia uma imagem borrada do rosto de Elisabeth e/ou Alma.

A história principal começa quando a enfermeira Alma é escolhida para cuidar de Elisabeth Vogler, uma atriz que surtara em uma de suas apresentações. Apesar de Elizabeth ser tida como catatônica, ela reage com extremo pânico ao ver na televisão um monge budista se auto-imolando. 

As duas vão para uma casa da administradora do hospital para que Elisabeth possa se comunicar normalmente. A princípio Alma era a enfermeira que deveria analisar e cuidar de sua paciente,porém Alma se torna a própria paciente, confidenciando seus segredos carnais- sua traição e seu aborto- como uma forma de quebrar o silêncio de sua paciente. O conflito origina-se quando Elisabeth escreve uma carta para o hospital, confidenciando o segredo de Alma, esta fica furiosa e agride verbalmente e fisicamente a paciente, nessa cena o silêncio de Elisabeth se quebra e ela com medo de morrer grita. No decorrer do filme Alma fica em constante monólogo, porém esta consegue desvendar alguns mistérios, como a motivo que levou o silêncio repentino da atriz. Persona é um filme que retrata de forma bastante reflexiva e complexa as máscaras que o ser humano usa em sua vida, a ponto de não mais reconhecer a sua real face.


quinta-feira, 4 de julho de 2013

Um toque de amor...

Um toque de amor...
Uma flor linda. Sinta.
Sinta!
Na pós-modernidade da Psicanálise.
Estamos fazendo...
A psicanálise vem se tornando o tratamento do real como causa da desorientação subjetiva e como exigência de uma nova responsabilidade perante as diversas opções do presente e, consequentemente, a invenção de um futuro (Forbes, 2012).
No que depender de mim a psicanálise continuará sempre sendo um PRESENTE para o futuro desde que nós a façamos PRESENTE, oferecendo-nos como ouvintes na hiância do inconsciente que nos é mostrada na fala do sujeito.
No entanto, hoje, não só do sujeito traumatizado, mas diria “desbussolado”.
Há de se tomar cuidado com a redoma medicamentosa que podem estar (estão?!) “fabricando um novo homem”, polido e sem humor, esgotado pela evitação de suas paixões, envergonhado por não ser conforme ao ideal que lhe é proposto.
Daí o que digo – que como meu mantra me presentearam -: Derrame o Id no ego e afogue o superego com bolhas de vida!
Por isso, no futuro (estamos fazendo...), ela deverá conservar integralmente o seu lugar, ao lado das outras ciências, para lutar contra as pretensões obscurantistas que almejam reduzir o pensamento a um neurônio ou confundir o desejo com uma secreção química.
(Marcos Castro)


terça-feira, 2 de julho de 2013

O que é Transferência?

A transferência é a forma de entender o processo analítico. É a repetição de sentimentos por uma representação da figura de alguém que escuta, acolhe, contem, traduz as angustias, oferece segurança... as mesmas características que um genitor/educador bom oferece a um filho. Pela interpretação da repetição (e que tem o nome de transferência), o analisando se conscientiza de seu mundo interior, e deixa de ser um marionete de suas emoções. Tem um exemplo perfeito no filme "O Homem dos Ratos" quando o paciente briga com Freud durante a sessão xingando-o e então pergunta “porque o senhor não me põe para fora?” ao que Freud responde impávido e calmo “você está atacando o seu pai que está representado em mim.” Este é um exemplo perfeito de transferência negativa. (Wally Martins)

P.S. Segue o link do filme "O Homem dos Ratos": http://migre.me/fh6z0


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Complexo de Édipo

O complexo de Édipo foi escrito por Freud a partir do mito. É a fase fálica que ocorre por volta dos 3 anos de idade. No menino há a fantasia que ele deseja ter a mãe apenas para si. E devido a este desejo, o pai se torna seu rival. Contudo, porque ele tem medo de perder o pênis (pois o pai tem um pênis maior do que o dele), ele abandona a mãe na esperança de no futuro encontrar uma substituta para a mesma. Com a menina, o complexo de Édipo se dá da seguinte maneira: quando ela percebe que não tem um pênis, ela vai em busca de um. O mais disponível é o do pai. A partir do desejo de possuir o pênis do pai, a menina sofre ameaças da mãe. Todavia, como ela já não tem pênis, ela não teme a figura materna. Então ela espera que o pai lhe dê um pênis; e cabe ao pai fazer a recusa de forma que ela entenda que ele não está disponível para ela e então arrume um substituto para o pai. O desejo de obter o elemento do sexo oposto e, ao mesmo tempo, a vontade de livrar-se do rival do mesmo sexo gera sensações ambivalentes de amor e ódio. (Wally Martins)


Transferência na Análise

A análise é sempre da transferência.
Transferência é a repetição do comportamento e do afeto ao pai e à mãe. Seja no setting analítico, seja na vida.
Se não há transferência entre terapeuta e paciente, então não há análise. (Wally Martins)



domingo, 30 de junho de 2013

O Setting Analítico

Em Psicanálise, a configuração do setting é terapêutica porque serve de objeto transicional para o mundo, e o analista serve de objeto transicional para os objetos (pessoas com quem vai se relacionar). O setting analítico é como se fosse uma 'maquete' do 'mundo lá fora.'
Em outras palavras, a pessoa treina, expondo sua forma de ser, e tendo o analista como espelho, passa a se enxergar.
O analista, numa atitude de entrega, dispõe o próprio Ego para ser emprestado ao analisando, permitindo-o pensar, e juntos, desenvolvem novas estratégias para o analisando escolher, (ou não) outro comportamento diferente, até obter o resultado desejado. Com o tempo, o analisando começa a não precisar mais do Ego do analista emprestado, e depois de um tempo fica independente, sem precisar da transição entre o seu narcisismo e a realidade. Aos poucos, verá que alguns (muitos) comportamentos e reações são universais, e antecipando as reações dos outros, num primeiro momento irá se conter, mas quando estiver realmente bem, vai inserir atitudes no ambiente que modificarão a realidade a seu favor. (Wally Martins)


O Tempo

Penso o TEMPO!
Aquele, o lógico.
O que traz a asserção antecipada.
O que faz querer...rápido!
O consciente, pois o outro – o inconsciente – é atemporal.
Derramei... Ação do Id!
Veio a imagem da lenda árabe: “As Mil e UMA Noites”
Dizer “mil noites” é dizer infinitas noites, as muitas noites,
as inumeráveis noites.
Dizer “mil e UMA noites” é acrescentar UMA ao infinito.
Volto...
Então, ∞ ∞ ∞ ∞ mais um. Melhor ainda!
Manejo – feliz - o TEMPO, SEMPRE! 
(Marcos Castro)




sábado, 29 de junho de 2013

Entre O Corpo e A Alma - Um Documentário sobre a Esquizofrenia

Este video tem por objetivo contribuir para uma melhor compreensão da esquizofrenia e oferecer uma esperança realista aos que convivem com o transtorno.


Entre o Corpo e a Alma from Jorge Assis on Vimeo.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Complexo de Castração

O complexo de castração marca uma experiência psíquica que apesar de inconsciente, é definitiva para determinar a futura identidade sexual da criança. Essa experiência acontece por volta dos 5 anos de idade, mas opera nas escolhas objetais até o fim da vida. O complexo de castração é vivenciado de forma diferente por meninos e meninas. O menino quando descobre que a menina não tem pênis, acredita que pode perder o dele; e as manifestações neuróticas são decorrentes do medo de perder este membro especial. O complexo de castração acontece depois do complexo de Édipo nos meninos. A menina, como não tem pênis, não teme a castração. Então ela elabora a castração. Ela atribui à mãe a culpa de não ter um pênis e busca o pênis do pai. Ao contrário dos meninos, ela inicia na castração e termina abandonando o Édipo. É por meio desta fantasia inconsciente que se dá a estrutura do sujeito. (Wally Martins)


O Princípio da Realidade

O Princípio da Realidade é um dos princípios do funcionamento mental, o qual está ligado ao processo secundário, e é um conceito relacionado ao pensar e ao consciente. É uma espécie de mecanismo psíquico e como o próprio nome diz orienta o homem à realidade. É contrastante ao princípio do prazer que supera os limites consentidos pela moral e cria conflitos interiores. O desejo relacionado ao Principio do Prazer, tenta superar limites. Nesse momento pode entrar em ação o mecanismo de defesa: a Repressão. Assim, podemos dizer que o Princípio da realidade nos frustra. Penso nele como uma rédea. E o tamanho desta rédea provavelmente depende do tamanho do ego (em termos de saúde psíquica). (Wally Martins)


Adorável Psicose - Complexo de Édipo

11o episódio da 2a temporada da Série do Canal Multishow.

domingo, 23 de junho de 2013

Gozando o Sintoma

Freud chamou o sintoma de formação de compromisso, compromisso que a pessoa elabora entre sua problemática inconsciente e suas defesas, ele é o retorno do que foi reprimido. E se o sintoma faz o sujeito sofrer, porque ele tem dificuldade de renunciar a isso? Ora, porque ele é uma solução de compromisso que se inscreveu no processo de construção do sujeito. É como se fosse a marca que o identifica, sua assinatura. Sendo assim, é difícil que alguém abra mão disso, “sob pena de se separar de uma parte dele mesmo”.(Andreneide Dantas)

Você já reparou como tem pessoas que vivem alimentando a sua dor? E que fazem questão de permanecerem deprimidas e doentes? Esses são os casos mais graves. Mas é natural do ser humano querer 'gozar' (psicanaliticamente falando) o sintoma. Infelizmente, e de uma forma inconsciente, o sujeito não quer abrir mão de seu sintoma porque sente que o sintoma dá a ele uma identidade, e pensa que ao perder o sintoma vai perder a sua identidade. É preciso trabalhar isso em análise para que possa então sair desse círculo vicioso.  (Wally Martins)

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Análise de uma mente - Freud (Documentário)

Este documentário explora a vida de Sigmund Freud, através da análise de detalhes de sua personalidade e de suas relações familiares, desde sua infância, que inspirou muitas de suas idéias, até sua fama mundial.

Recorre a variado material biográfico, artigos pessoais, cartas, diários, fotografias e imagens raras.

Apresenta entrevistas com diversos especialistas, como o psicólogo e historiador Joe Aguayo, o diretor executivo dos arquivos de Freud Dr. Harold P. Blum, o psicanalista Dr. Leo Rangell e autores e escritores da área psicológica. Traz ainda depoimentos dos netos de Sigmund Freud, Walter e Sophie Freud. 

O programa mostra as teorias de Freud, enquanto percorre sua complexa personalidade, mostrando que, apesar de suas idéias revolucionárias, que influenciam a época moderna, Freud foi flagelado por medos neuróticos, incômodas obsessões e comportamentos adictivos. 

Apesar da dificuldade de apresentar um sumário de uma vida e trabalho tão complexos quanto os de Freud em 50 minutos, este documentário faz um trabalho excelente, dando uma visão geral dos principais eventos de sua vida, e apresenta dois aspectos pouco mostrados da vida de Freud: seu interesse pela cocaína e o trabalho que fez para promover o uso da droga, e o modo como o anti-semitismo e a ascensão do nazismo na Alemanha e na Áustria lhe causaram forte impacto, forçando-o a se exilar na Inglaterra. 

O diferencial deste documentário é ter um enfoque biográfico, sendo mais voltado a fatos interessantes da vida de Freud que a sua obra.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A Psicanálise e A Culpa

por José Del-Fraro Filho

Nós temos em nossa consciência, um espaço de liberdade e discernimento a nos implicar em nossas ações e escolhas. 

Porém o inconsciente se interliga ao consciente de forma inextricável e constitutiva da consciência. Isso nos leva ao raciocínio de que nossa liberdade é apenas parcial no que se refere às nossas condutas. 

Muito daquilo que denominamos pecado é na verdade limitação histórica, falta de cuidados recebidos, falta de amor que acirra nossa destrutividade e culpa inconsciente, e não pecado.

A criança e o adolescente, ao se tornarem adultos, carregam, independentemente de terem alguma religião, mais ou menos grau de culpa. Isso se dá pelas seguintes situações vividas por todos nós no amadurecimento emocional (apenas enumerando algumas delas):

- Culpa por ter desejado ser exclusivo no desejo e na vida da mãe (e os desejos inconscientes não morrem nunca).

- Culpa por ter desejado, na fantasia, destruir o seio e o corpo materno e a própria mãe como pessoa, por ter sido frustrado no desejo de exclusividade e por ela não ter satisfeito todos os nossos desejos e necessidades.

- Culpa por ter desejos incestuosos pelo genitor do sexo oposto e pela rivalidade com o genitor do mesmo sexo.

- Culpa por não ter pelos pais apenas sentimentos sublimes, construtivos.

- Culpa por ter desejado a morte de irmãos rivais.

- Culpa por ter desejado excluir o pai da relação mãe e filho(a).

- Culpa por ter desejado, de maneira homoerótica, ou seja, o genitor do mesmo sexo ou criança do mesmo sexo.

- Culpa por não corresponder totalmente aos ideais que os pais gostariam, e por atos que a criança, ao crescer (superego), percebe serem contrários aos interesses civilizatórios e familiares.

- Culpa pela ambivalência afetiva constitutiva: o amor e ódio pela mesma pessoa (pais).

* A culpa é constitutiva da natureza humana, o excesso de culpa é patológico.

Mediante esse rosário de culpas a criança, para não sucumbir, elabora fantasias e atos reparadores. O amor e a sobrevivência dos pais são fundamentais para que as reparações inconscientes possam integrar melhor o seu amadurecimento. 

A reparação pode acontecer de várias formas, sadias e neuróticas, e pode nos transformar em adultos éticos, criativos, bondosos, sublimes ou submissos, excessivamente escrupulosos, obsessivos etc. Tudo isso movidos pelo desejo de reparação interna e externa.

Quando, na vida adulta, alguma situação apresenta semelhança com aquilo já vivido, o inconsciente se manifesta e vem à tona algum rastro ou marca de culpa em nossas consciências. A angústia sobrevém e sentimos necessidade de dar um nome ao vivido. Esse descompasso, essa inadequação, essa coisa fora de lugar que incomoda e gera desconforto costumamos associar, em nossa cultura judaico-cristã, a pecado.

Há Igrejas e modelos de Igrejas que tentam trabalhar a pessoa, bem ou mal intencionadas (não cabem aqui julgamentos), pelo prisma do moralismo, do dogmatismo e fundamentalismo. 

O ser humano, nesse estado, acaba perdendo muito de sua espontaneidade e criatividade, além da capacidade de crítica. Movidas e freadas pela culpa inconsciente, mais vivida na consciência como pecado, as pessoas se tornam massa de manobra, escravas de líderes carismáticos, de normas e regras farisaicas. E elas passam a tratar o próximo com enorme severidade e rigor, como seus superegos as tratam.

Escutando tantas pessoas todos os dias e há tantos anos em consultório, a cada dia mais me convenço que a culpa mal trabalhada leva não somente a excesso de escrúpulos, mas a neuroses, precipita doenças como a síndrome do pânico, obsessões e até mesmo graves doenças psicossomáticas. Mas, principalmente, conduz o ser humano a uma infelicidade crônica, a um boicote quanto a uma boa qualidade de vida.

trecho de um artigo de José Del-Fraro Filho
Psiquiatra, Psicanalista
autor do livro Os obstáculos ao amor e à fé: Amadurecimento Humano e Espiritualidade Cristã, Paulus. 
Email: clinicafraro@planetarium.com.br

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Os Terroristas, Os Vândalos, Freud e a Democracia

Enquanto Obama rebolava para tentar justificar a escuta indiscriminada dos cidadãos que viam de um momento para o outro que suas vidas, na maior e mais decantada democracia do mundo, nada tem de privada, a Avenida Paulista era tomada por vândalos, que além de protestar pelo acréscimo de vinte centavos nas passagens de ônibus, promoviam agressões e prejuízos vultosos aos patrimônios público e privado.

Embora sejam episódios geográfica e visualmente distantes, a genealogia para ambos os episódios, de alguma forma se equipara, quando tentamos entender o que motiva e operacionaliza o terrorismo do Al-Qaeda – supostas justificativas para a instalação de espionagem digital nos EUA – e os vândalos da Avenida Paulista.

Em sua obra Psicologia das Massas e Análise do Eu, Freud faz uma análise de como se dá a relação de um indivíduo, seus impulsos instintuais, os motivos e até as suas relações com aqueles que lhe são mais próximos, formando um grupo. Afirma que tais indivíduos sob certas condições passam a agir de forma inconsciente, completamente diferente daquela que seria esperada “o indivíduo adquire a característica de ‘um grupo psicológico’”.

Assim, “os fenômenos inconscientes desempenhariam papel inteiramente preponderante no grupo, subjugando o consciente e a inteligência. O inconsciente seria sugestionável, descuidado nas deliberações, apressado nos julgamentos, desprovido de autoconsciência, de autorrespeito e de responsabilidade, condicionando aquele por ele dominado a apresentar um comportamento assemelhado ao de uma criança ou um animal selvagem”.

Para o grupo ter essa característica, faz-se indispensável a presença de uma liderança forte, arbitrária e fascinante. Freud continua “em um grupo, todo sentimento e todo o ato são contagiosos em tal grau, que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo. Algo totalmente contrário a sua natureza a não ser quando submetido a tal situação. Isso pode ocorrer a qualquer homem por civilizado, pacato, mas envolvido pelo grupo”.

Esse rebanho obediente necessita de um senhor, que pode ser qualquer um do grupo que se indique a si próprio o chefe. Esse deve ser fascinado por uma intensa fé, uma ideia, a fim de despertar a fé do grupo. Precisa ter vontade forte e imponente, que o grupo não tem vontade própria. Não há espaço para diálogo, nem divergências. Freud considera a falta de liberdade o principal fenômeno da psicologia do grupo. É imensa a intensidade dos vínculos emocionais entre os membros desse grupo. Etéreo amálgama a moldar os terroristas suicidas e de uma forma imprecisa e ainda envolta em bruma, os baderneiros da Avenida Paulista.

Paradoxalmente, sozinhos e em suas vidas privadas, eles são pessoas normais. O psiquiatra muçulmano dr. Eyad Sarraj afirma que os terroristas islâmicos são “geralmente pessoas tímidas, introvertidas e não violentas, de uma forma geral”. E o renomado psicólogo da Universidade de Tel-Aviv, dr. Ariel Merari, que estudou cada terrorista suicida no Oriente Médio por um período de 18 anos, afirma que não conheceu nenhum caso de terrorista suicida que fosse realmente psicótico.

Portanto, fica mais fácil compreender porque a sociedade norte-americana, profundamente neurotizada pelos atentados terroristas, aceite majoritariamente que sua vida privada seja devassada. Em busca de uma tranquilidade para sempre perdida, os pressupostos básicos da democracia parece que, lamentável e infelizmente, são e serão sacrificados cada vez mais.

terça-feira, 11 de junho de 2013

O Amor para a Psicanálise

A entrevista foi publicada na Psychologies Magazine em outubro 2008. A entrevistadora é Hanna Waar. 

Psychologies: A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?

Jacques-Alain Miller: Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor. Trata-se desse amor automático, e freqüentemente inconsciente, que o analisando dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém, o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela é, de fato, difícil de suportar.

P.: Então, o que é amar verdadeiramente?

J-A Miller: Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa questão “Quem sou eu?”.

P.: Por que alguns sabem amar e outros não? 

J-A Miller: Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias.  

P.: “Ser completo sozinho”: só um homem pode acreditar nisso… 

J-A Miller: Acertou! “Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem”. O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se assegurar de sua falta, de sua “castração”, como dizia Freud. E isso é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade.

P.: Amar seria mais difícil para os homens? 

J-A Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho, assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a “degradação da vida amorosa” no homem: a cisão do amor e do desejo sexual. 

P.: E nas mulheres? 

J-A Miller: É menos habitual. No caso mais freqüente há desdobramento do parceiro masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas desejam, porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado. Entretanto, não é a anatomia que comanda: existem as mulheres que adotam uma posição masculina. E cada vez mais. Um homem para o amor, em casa; e homens para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no trem…

P.: Por que “cada vez mais”? 

J-A Miller: Os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade estão em plena mutação. Os homens são convidados a acolher suas emoções, a amar, a se feminizar; as mulheres, elas, conhecem ao contrário um certo “empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade jurídica são conduzidas a repetir “eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam os direitos e os símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande instabilidade dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o sociólogo Zygmunt Bauman (1). Cada um é levado a inventar seu próprio “estilo de vida” e a assumir seu modo de gozar e de amar. Os cenários tradicionais caem em lento desuso. A pressão social para neles se conformar não desapareceu, mas está em baixa. 

P.: “O amor é sempre recíproco”, dizia Lacan. Isso ainda é verdade no contexto atual? O que significa?

J-A Miller: Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo-a mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso seria absurdo. Quer dizer: “Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo, mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura, de forma alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação. 

P.: Não se encontra seu ‘cada um’, sua ‘cada uma’ por acaso. Por que ele? Por que ela? 

J-A Miller: Existe o que Freud chamou de Liebesbedingung, a condição do amor, a causa do desejo. É um traço particular – ou um conjunto de traços – que tem para cada um função determinante na escolha amorosa. Isto escapa totalmente às neurociências, porque é próprio de cada um, tem a ver com sua história singular e íntima. Traços às vezes ínfimos estão em jogo. Freud, por exemplo, assinalou como causa do desejo em um de seus pacientes um brilho de luz no nariz de uma mulher! 

P.: É difícil acreditar em um amor fundado nesses elementos sem valor, nessas baboseiras! 

J-A Miller: A realidade do inconsciente ultrapassa a ficção. A senhora não tem idéia de tudo o que está fundado, na vida humana, e especialmente no amor, em bagatelas, em cabeças de alfinete, os “divinos detalhes”. É verdade que, sobretudo no macho, se encontram tais causas do desejo, que são como fetiches cuja presença é indispensável para desencadear o processo amoroso. As particularidades miúdas, que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, tal personagem da infância, também têm seu papel na escolha amorosa das mulheres. Porém, a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotômana que fetichista : elas querem ser amadas, e o interesse, o amor que alguém lhes manifesta, ou que elas supõem no outro, é sempre uma condição sine qua non para desencadear seu amor, ou, pelo menos, seu consentimento. O fenômeno é a base da corte masculina. 

P.: O senhor atribui algum papel às fantasias? 

J-A Miller: Nas mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes, são mais determinantes para a posição de gozo do que para a escolha amorosa. E é o inverso para os homens. Por exemplo, acontece de uma mulher só conseguir obter o gozo – o orgasmo, digamos – com a condição de se imaginar, durante o próprio ato, sendo batida, violada, ou de ser uma outra mulher, ou ainda de estar ausente, em outro lugar.

P.: E a fantasia masculina? 

J-A Miller: Está bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo clássico, comentado por Lacan, é, no romance de Goethe (2), a súbita paixão do jovem Werther por Charlotte, no momento em que a vê pela primeira vez, alimentando ao numeroso grupo de crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade maternal da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo, retirado de minha prática, é este: um patrão qüinquagenário recebe candidatas a um posto de secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de imediato seu fogo. Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o desencadeante: ele havia nela reencontrado os traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos, quando se apresentou ao seu primeiro emprego. Ele estava, de alguma forma, caído de amores por ele mesmo. Reencontra-se nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por Freud: ama-se ou a pessoa que protege, aqui a mãe, ou a uma imagem narcísica de si mesmo. 

P.: Tem-se a impressão de que somos marionetes! 

J-A Miller: Não, entre tal homem e tal mulher, nada está escrito por antecipação, não há bússola, nem proporção pré-estabelecida. Seu encontro não é programado como o do espermatozóide e do óvulo; nada a ver também com os genes. Os homens e as mulheres falam, vivem num mundo de discurso, e isso é determinante. As modalidades do amor são ultra-sensíveis à cultura ambiente. Cada civilização se distingue pela maneira como estrutura a relação entre os sexos. Ora, acontece que no Ocidente, em nossas sociedades ao mesmo tempo liberais, mercadológicas e jurídicas, o “múltiplo” está passando a destronar o “um”. O modelo ideal do “grande amor de toda a vida” cede, pouco a pouco, terreno para o speed dating, o speed loving e toda floração de cenários amorosos alternativos, sucessivos, inclusive simultâneos. 

P.: E o amor no tempo, em sua duração? Na eternidade? 

J-A Miller: Dizia Balzac: “Toda paixão que não se acredita eterna é repugnante” (3). Entretanto, pode o laço se manter por toda a vida no registro da paixão? Quanto mais um homem se consagra a uma só mulher, mais ela tende a ter para ele uma significação maternal: quanto mais sublime e intocada, mais amada. São os homossexuais casados que melhor desenvolvem esse culto à mulher: Aragão canta seu amor por Elsa; assim que ela morre, bom dia rapazes! E quando uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra. Portanto, o caminho é estreito. O melhor caminho do amor conjugal é a amizade, dizia, de fato, Aristóteles. 

P.: O problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres; e as mulheres, o que os homens esperam delas… 

J-A Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica é que o diálogo de um sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde a saída não existe.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Psicanálise: um “presente” para o futuro? Ela tem presente? Ela tem futuro?

por Marcos Castro
         

 O que pensaria um principiante – porém, corajosamente apaixonado – no estudo da ciência psicanalítica ao “bater de frente” com tantos questionamentos e controvérsias a respeito de sua eficácia, de seu presente e seu futuro? Uns desistiriam, outros se debruçariam sobre o pouco que estudaram.... 

 Afinal, por que, após (mais de) cem anos de existência e de resultados clínicos incontestáveis, a psicanálise é tão violentamente atacada pelos que pretendem substituí-la por tratamentos químicos, julgados mais eficazes porque atingiram as chamadas causas cerebrais das dilacerações da alma (Roudinesco, 2000)?

            Pergunto eu: onde e como, então, situar-me com a psicanálise?

Segundo Garcia-Rosa (2005), a resposta pode ser: em nenhum lugar preexistente!
Ainda segundo o mesmo autor, o próprio Freud apontou a psicanálise como a terceira grande ferida narcísica sofrida pelo saber ocidental ao produzir um descentramento da razão e da consciência (as outras duas feridas foram produzidas por Copérnico e por Darwin). 

A psicanálise teria, neste caso, operado uma ruptura com o saber existente e produzido o seu próprio lugar. O fato é que, ao percorrermos o – ou recorrermos ao – caminho empreendido por Freud, verificamos que seu começo – da psicanálise – é a produção do conceito de Inconsciente que resultou na clivagem da subjetividade. A partir deste momento, a subjetividade deixa de ser entendida como um todo unitário, identificado com a consciência e sob o domínio da razão, para ser uma realidade dividida em dois grandes “sistemas” – o Inconsciente e o Consciente – e dominada por uma luta interna em relação à qual a razão é apenas um efeito de superfície. Paralelamente à clivagem da subjetividade em Consciente e Inconsciente, dá-se uma ruptura entre enunciado e enunciação, o que implica admitir-se uma duplicidade de sujeito na mesma pessoa. 

Essa divisão não se faz em nome de uma unidade harmoniosa do indivíduo, mas produz uma fenda entre o “dizer” e o “ser”, entre o “eu falo” e o “eu sou”. Daí a conhecida inversão lacaniana da máxima de Descartes: “Penso onde não sou, portanto sou onde não penso”. Dito de outra maneira o cogito não é o lugar da verdade do sujeito, mas o lugar do seu desconhecimento.

            Portanto, sinto-me mais situado, consciente de que a psicanálise se apresenta como uma teoria e uma prática (uma ciência) que pretende falar do homem enquanto ser singular, mesmo que afirme a clivagem inevitável a que esse sujeito é submetido. O ato analítico é o ato da escuta – nem sempre calada – em busca da verdade do sujeito e não do sujeito da verdade (Garcia-Rosa, 2005). A psicanálise veio ocupar, a partir do século XX, este lugar da escuta do discurso individual.

            Mas ainda fica a questão: por que o ser que sofre precisa da psicanálise se tem a psicofarmacologia para cuidar dos sintomas de seu sofrimento?
Neste caso, – desta questão – não me arrisco a maiores contextualizações – até porque não é necessário.

De modo simples e introdutório, fica fácil de responder: a partir de 1950, as substâncias químicas modificaram a paisagem da loucura, do sofrimento; substituindo os tratamentos de choque pela redoma medicamentosa. Embora não curem nenhuma doença mental ou nervosa, elas – as substâncias químicas – revolucionaram as representações do psiquismo, “fabricando um novo homem”, polido e sem humor, esgotado pela evitação de suas paixões, envergonhado por não ser conforme ao ideal que lhe é proposto. Os remédios têm o efeito de normalizar comportamentos e eliminar os sintomas – só os sintomas! – mais dolorosos do sofrimento psíquico, sem lhes buscar significação (Roudinesco, 2000).

No que depender de mim a psicanálise continuará sempre sendo um presente para o futuro desde que nós a façamos presente, oferecendo-nos como ouvintes – às vezes conseguindo interpretar e ajudar o analisando na hiância do inconsciente que nos é mostrada na fala do sujeito.

Ainda não me sinto apto a inferir sobre o futuro da psicanálise; e muito menos quanto ao meu futuro como psicanalista – “só o analista se autoriza a si mesmo” – porém embaso-me em Elisabeth Roudinesco para escrever-lhes - e expor-lhes meu desejo de analista - que, a psicanálise restaura a idéia de que o homem é livre por sua fala e de que seu destino não se restringe a um ser biológico. Por isso, no futuro, ela deverá conservar integralmente o seu lugar, ao lado das outras ciências, para lutar contra as pretensões obscurantistas que almejam reduzir o pensamento a um neurônio ou confundir o desejo com uma secreção química.

Referências bibliográficas
GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o inconsciente. 21ed. Rio de Janeiro: Jorge Zafar Ed., 2005.
ROUDINESCO, E. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zafar Ed., 2000.      
           
           




           




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