segunda-feira, 17 de junho de 2013

Os Terroristas, Os Vândalos, Freud e a Democracia

Enquanto Obama rebolava para tentar justificar a escuta indiscriminada dos cidadãos que viam de um momento para o outro que suas vidas, na maior e mais decantada democracia do mundo, nada tem de privada, a Avenida Paulista era tomada por vândalos, que além de protestar pelo acréscimo de vinte centavos nas passagens de ônibus, promoviam agressões e prejuízos vultosos aos patrimônios público e privado.

Embora sejam episódios geográfica e visualmente distantes, a genealogia para ambos os episódios, de alguma forma se equipara, quando tentamos entender o que motiva e operacionaliza o terrorismo do Al-Qaeda – supostas justificativas para a instalação de espionagem digital nos EUA – e os vândalos da Avenida Paulista.

Em sua obra Psicologia das Massas e Análise do Eu, Freud faz uma análise de como se dá a relação de um indivíduo, seus impulsos instintuais, os motivos e até as suas relações com aqueles que lhe são mais próximos, formando um grupo. Afirma que tais indivíduos sob certas condições passam a agir de forma inconsciente, completamente diferente daquela que seria esperada “o indivíduo adquire a característica de ‘um grupo psicológico’”.

Assim, “os fenômenos inconscientes desempenhariam papel inteiramente preponderante no grupo, subjugando o consciente e a inteligência. O inconsciente seria sugestionável, descuidado nas deliberações, apressado nos julgamentos, desprovido de autoconsciência, de autorrespeito e de responsabilidade, condicionando aquele por ele dominado a apresentar um comportamento assemelhado ao de uma criança ou um animal selvagem”.

Para o grupo ter essa característica, faz-se indispensável a presença de uma liderança forte, arbitrária e fascinante. Freud continua “em um grupo, todo sentimento e todo o ato são contagiosos em tal grau, que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo. Algo totalmente contrário a sua natureza a não ser quando submetido a tal situação. Isso pode ocorrer a qualquer homem por civilizado, pacato, mas envolvido pelo grupo”.

Esse rebanho obediente necessita de um senhor, que pode ser qualquer um do grupo que se indique a si próprio o chefe. Esse deve ser fascinado por uma intensa fé, uma ideia, a fim de despertar a fé do grupo. Precisa ter vontade forte e imponente, que o grupo não tem vontade própria. Não há espaço para diálogo, nem divergências. Freud considera a falta de liberdade o principal fenômeno da psicologia do grupo. É imensa a intensidade dos vínculos emocionais entre os membros desse grupo. Etéreo amálgama a moldar os terroristas suicidas e de uma forma imprecisa e ainda envolta em bruma, os baderneiros da Avenida Paulista.

Paradoxalmente, sozinhos e em suas vidas privadas, eles são pessoas normais. O psiquiatra muçulmano dr. Eyad Sarraj afirma que os terroristas islâmicos são “geralmente pessoas tímidas, introvertidas e não violentas, de uma forma geral”. E o renomado psicólogo da Universidade de Tel-Aviv, dr. Ariel Merari, que estudou cada terrorista suicida no Oriente Médio por um período de 18 anos, afirma que não conheceu nenhum caso de terrorista suicida que fosse realmente psicótico.

Portanto, fica mais fácil compreender porque a sociedade norte-americana, profundamente neurotizada pelos atentados terroristas, aceite majoritariamente que sua vida privada seja devassada. Em busca de uma tranquilidade para sempre perdida, os pressupostos básicos da democracia parece que, lamentável e infelizmente, são e serão sacrificados cada vez mais.

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