por Marcos Castro
O que pensaria um principiante – porém,
corajosamente apaixonado – no estudo da
ciência psicanalítica ao “bater de frente” com
tantos questionamentos e controvérsias a respeito
de sua eficácia, de seu presente e seu futuro?
Uns desistiriam, outros se debruçariam
sobre o pouco que estudaram....
Afinal, por que, após (mais de) cem anos de existência e de resultados clínicos incontestáveis, a psicanálise é tão violentamente atacada pelos que pretendem substituí-la por tratamentos químicos, julgados mais eficazes porque atingiram as chamadas causas cerebrais das dilacerações da alma (Roudinesco, 2000)?
Afinal, por que, após (mais de) cem anos de existência e de resultados clínicos incontestáveis, a psicanálise é tão violentamente atacada pelos que pretendem substituí-la por tratamentos químicos, julgados mais eficazes porque atingiram as chamadas causas cerebrais das dilacerações da alma (Roudinesco, 2000)?
Pergunto
eu: onde e como, então, situar-me com a psicanálise?
Segundo Garcia-Rosa
(2005), a resposta pode ser: em nenhum lugar preexistente!
Ainda segundo o mesmo autor, o
próprio Freud apontou a psicanálise como a terceira grande ferida narcísica
sofrida pelo saber ocidental ao produzir um descentramento da razão e da
consciência (as outras duas feridas foram produzidas por Copérnico e por
Darwin).
A psicanálise teria, neste caso, operado uma ruptura com o saber existente e produzido o seu próprio lugar. O fato é que, ao percorrermos o – ou recorrermos ao – caminho empreendido por Freud, verificamos que seu começo – da psicanálise – é a produção do conceito de Inconsciente que resultou na clivagem da subjetividade. A partir deste momento, a subjetividade deixa de ser entendida como um todo unitário, identificado com a consciência e sob o domínio da razão, para ser uma realidade dividida em dois grandes “sistemas” – o Inconsciente e o Consciente – e dominada por uma luta interna em relação à qual a razão é apenas um efeito de superfície. Paralelamente à clivagem da subjetividade em Consciente e Inconsciente, dá-se uma ruptura entre enunciado e enunciação, o que implica admitir-se uma duplicidade de sujeito na mesma pessoa.
Essa divisão não se faz em nome de uma unidade harmoniosa do indivíduo, mas produz uma fenda entre o “dizer” e o “ser”, entre o “eu falo” e o “eu sou”. Daí a conhecida inversão lacaniana da máxima de Descartes: “Penso onde não sou, portanto sou onde não penso”. Dito de outra maneira o cogito não é o lugar da verdade do sujeito, mas o lugar do seu desconhecimento.
A psicanálise teria, neste caso, operado uma ruptura com o saber existente e produzido o seu próprio lugar. O fato é que, ao percorrermos o – ou recorrermos ao – caminho empreendido por Freud, verificamos que seu começo – da psicanálise – é a produção do conceito de Inconsciente que resultou na clivagem da subjetividade. A partir deste momento, a subjetividade deixa de ser entendida como um todo unitário, identificado com a consciência e sob o domínio da razão, para ser uma realidade dividida em dois grandes “sistemas” – o Inconsciente e o Consciente – e dominada por uma luta interna em relação à qual a razão é apenas um efeito de superfície. Paralelamente à clivagem da subjetividade em Consciente e Inconsciente, dá-se uma ruptura entre enunciado e enunciação, o que implica admitir-se uma duplicidade de sujeito na mesma pessoa.
Essa divisão não se faz em nome de uma unidade harmoniosa do indivíduo, mas produz uma fenda entre o “dizer” e o “ser”, entre o “eu falo” e o “eu sou”. Daí a conhecida inversão lacaniana da máxima de Descartes: “Penso onde não sou, portanto sou onde não penso”. Dito de outra maneira o cogito não é o lugar da verdade do sujeito, mas o lugar do seu desconhecimento.
Portanto,
sinto-me mais situado, consciente de que a psicanálise se apresenta como uma
teoria e uma prática (uma ciência) que pretende falar do homem enquanto ser
singular, mesmo que afirme a clivagem inevitável a que esse sujeito é
submetido. O ato analítico é o ato da escuta – nem sempre calada – em busca da
verdade do sujeito e não do sujeito da verdade (Garcia-Rosa, 2005). A
psicanálise veio ocupar, a partir do século XX, este lugar da escuta do
discurso individual.
Mas
ainda fica a questão: por que o ser que sofre precisa da psicanálise se tem a
psicofarmacologia para cuidar dos sintomas de seu sofrimento?
Neste caso, – desta questão – não
me arrisco a maiores contextualizações – até porque não é necessário.
De modo
simples e introdutório, fica fácil de responder: a partir de 1950, as
substâncias químicas modificaram a paisagem da loucura, do sofrimento;
substituindo os tratamentos de choque pela redoma medicamentosa. Embora não
curem nenhuma doença mental ou nervosa, elas – as substâncias químicas –
revolucionaram as representações do psiquismo, “fabricando um novo homem”,
polido e sem humor, esgotado pela evitação de suas paixões, envergonhado por
não ser conforme ao ideal que lhe é proposto. Os remédios têm o efeito de
normalizar comportamentos e eliminar os sintomas – só os sintomas! – mais
dolorosos do sofrimento psíquico, sem lhes buscar significação (Roudinesco,
2000).
No que
depender de mim a psicanálise continuará sempre sendo um presente para o futuro
desde que nós a façamos presente, oferecendo-nos como ouvintes – às vezes
conseguindo interpretar e ajudar o analisando na hiância do inconsciente que
nos é mostrada na fala do sujeito.
Ainda não me
sinto apto a inferir sobre o futuro da psicanálise; e muito menos quanto ao meu
futuro como psicanalista – “só o analista
se autoriza a si mesmo” – porém embaso-me em Elisabeth Roudinesco
para escrever-lhes - e expor-lhes meu desejo de analista - que, a psicanálise
restaura a idéia de que o homem é livre por sua fala e de que seu destino não
se restringe a um ser biológico. Por isso, no futuro, ela deverá conservar
integralmente o seu lugar, ao lado das outras ciências, para lutar contra as
pretensões obscurantistas que almejam reduzir o pensamento a um neurônio ou
confundir o desejo com uma secreção química.
Referências bibliográficas
GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o
inconsciente. 21ed. Rio de Janeiro: Jorge Zafar Ed., 2005.
ROUDINESCO, E. Por que a
psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zafar Ed., 2000.
Nenhum comentário:
Postar um comentário